Apesar de estar imersa em um conflito militar declarado com a Ucrânia desde 2022, há indícios de que a Rússia esteja, simultaneamente, vencendo uma guerra não declarada contra o Ocidente. Essa guerra silenciosa se manifesta não apenas nos campos de batalha, mas também no campo da inteligência, da guerra tecnológica e estratégica, e pode estar se revelando mais vantajosa para Moscou do que muitos imaginam.
O laboratório de guerra em tempo real
A guerra na Ucrânia se transformou, na prática, em um laboratório militar de escala real. O que para a OTAN e seus aliados representa um teste de capacidade de apoio indireto, para a Rússia tem sido uma rara oportunidade de travar combate direto contra as mais avançadas armas ocidentais sem que essas potências estejam oficialmente em guerra contra ela.
Tanques como o Leopard 2, sistemas de artilharia como o HIMARS, drones ocidentais, caças, e sistemas de defesa aérea como o Patriot estão sendo colocados à prova no campo de batalha, e a Rússia está aprendendo como enfrentá-los, superá-los ou neutralizá-los. Em outras palavras, o Kremlin está obtendo informações valiosas sobre os pontos fortes e fracos das tecnologias de ponta do Ocidente.
Desgaste estratégico do Ocidente
Além da experiência militar adquirida, a guerra prolongada na Ucrânia está causando um desgaste financeiro e político significativo para os países que apoiam Kiev. A necessidade constante de enviar armamentos, treinar soldados, e manter apoio econômico pressiona os orçamentos e os consensos políticos internos de países da Europa e dos Estados Unidos.
Enquanto isso, a Rússia, mesmo sob pesadas sanções, conseguiu adaptar sua economia de guerra, reforçar sua indústria de defesa, e estabelecer alianças estratégicas com potências como China, Irã e Coreia do Norte. A suposta “fragilidade” do país acabou se revelando uma capacidade de resiliência inesperada.
Conhecimento tático e doutrinário
A guerra também está permitindo que o exército russo atualize sua doutrina militar. Conflitos modernos não são apenas travados com força bruta, mas também com ciberataques, guerra eletrônica, uso massivo de drones e desinformação, e a Rússia está se aprimorando em todos esses domínios. Ao enfrentar um exército treinado com padrão OTAN, Moscou está evoluindo taticamente, o que pode representar uma vantagem estratégica futura em outros cenários geopolíticos.
Conclusão: a vitória silenciosa
Embora a narrativa pública ocidental costume focar nas perdas russas e nos avanços ucranianos, é possível argumentar que a Rússia está vencendo uma guerra de bastidores. Está acumulando conhecimento sobre o inimigo, testando e ajustando sua capacidade militar em combate real, desgastando adversários sem os enfrentar diretamente, e moldando uma nova ordem internacional com base na resistência prolongada. A vitória russa pode não ser total no campo de batalha, mas no xadrez estratégico global, pode estar sendo silenciosa, gradual e profundamente eficaz.
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